quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

fall be kind

Este é o nome do novo EP, marca Animal Collective. Cinco músicas de pura experimentação... pop.
Ao mesmo tempo que a banda de Avey Tare e Panda Bear procura revisitar o baú sonoro dos seus primeiros discos, como "Spirit..." ou "Sung Tongs", vislumbra-se uma evolução progressiva para a Pop nos seus mais recentes registos. Quando anunciaram ao mundo "Feels", a afirmação foi clara: "Estamos cá para ficar. E daqui a uns anos vemo-nos nos "tops"". Será esse muito provavelmente o próximo passo dos AC. Não num sentido fútil, de busca da fama e sucesso à custa da simplificação do processo de criação que neste caso é místico, complexo e delicadamente minucioso (leia-se "layered"). Esta banda é marcada simultaneamente pelas experiências musicais dos anos 60 e 70 - música criada sem barreiras ao espírito, em laivos de experimentalismo alimentado a químicos, pelos trilhos dos Blues, do Rock and Roll, Folk, Rythm and Blues/Soul... - e pelos míticos anos 80 e a plena cristalização da pop enquanto fenómeno e "receita".
Os AC têm, no fundo, o melhor dos dois mundos. Perdão, de todos os mundos. Este EP é um exemplo do que estes rapazes são capazes de fazer com um punhado de excelentes canções (que tanto podiam ter 3 minutos como 10) levadas até ao limite do sonho, da fantasia, sempre de mãos dadas à pop, em referências mais ou menos óbvias. Fall be Kind sucede a um disco de grande responsabilidade. Aquele onde os AC deram o salto: Merriweather Post Pavillion. E talvez por essa mesma responsabilidade acrescida, o formato intermédio EP tenha surgido como uma boa solução. Uma transição para algo ainda maior.
É uma tentativa bem sucedida de testar os limites da Pop perante a multitude de sons e instrumentos com que este colectivo trabalha. Não me refiro aqui aos outros elementos de referência e história musical da banda norte-americana, como as tendências psicadélicas ou o folk, porque entendo não serem essa a principal razão do brilho invulgar dos Animal Collective. É verdadeiramente a forma como tornam uma simples melodia (ex. What Would I Want? Sky) facilmente conversível em sucesso comercial instantâneo (se eles assim o desejassem), num despertar de seis minutos para o que é o todo da música contemporânea, o universo de referências que nos envolve e não desaparece facilmente. Dos Beach Boys a Human League, dos Beatles aos PetShop Boys, Aphex Twin, ou DJ Shadow.
Esta música (e a boa música no geral) é criada com memória e com o olhar no amanhã. E o que fazem hoje os AC fará definitivamente parte do amanhã da música em geral.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Aussie Open

Assisti ontem a mais um jogo dos quartos-de-final do Open da Austrália entre Jo-Wilfried Tsonga e Novak Djokovic. Em teoria, seria um apoiante fervoroso do jovem tenista sérvio, já que muito aprecio o seu ténis pleno em técnica e o fantástico jogo defensivo de "nole". Surpresa foi então este encontro, em que o poderoso e muito instintivo francês (que recebeu o epíteto de "sósia de Cassius 
Clay") roubou o espectáculo a Djokovic. Tsonga venceu em cinco partidas (parciais 7-6 com 10-8 no tiebreak; 6-7 com 5-7 no tiebreak; 1-6; 6-3; 6-1). Com algumas flutuações na qualidade do seu jogo, é certo, ainda assim exibindo consistência ao longo das mais de quatro horas de encontro, invulgar situação tendo em conta a prestação de Jo-Wilfried nos úlitmos grandes torneios. Na meia final Tsonga defronta Federer, uma partida que se adivinha espectacular e disputada. Pelo "lag" proporcionado por ter de ver os jogos em diferido, comento esta semi-final já depois da final ter ocorrido.

Para além desta excepcional partida, o ponto alto da minha noite informativa terá sido a breve entrevista a Humberto Coelho, no programa de comentário desportivo "Pontapé de Saída", transmitido às 23 horas de Quinta-Feira na RTPN. O "mister" falou do seu tempo enquanto jogador, seleccionador de Portugal e ainda da sua experiência internacional, nomeadamente da recente participação na CAN, treinando a selecção tunisina.

Conan, Conan

O imbróglio que tem envolvido os vários Talk-Shows da NBC não tem passado despercebido à maioria das pessoas. Pois a mim muito menos. Leno saiu do Tonight Show, Conan veio para Los Angeles, Fallon tomou conta em Nova Iorque. NBC não gostou do programa novo de Leno; Leno quer voltar ao Tonight Show; NBC põe Conan entre a espada e a parede e pretende empurrar o histórico formato - inicialmente pensado para Johnny Carson há mais de 40 anos - para um horário excessivamente tardio. Conan recusa e, como tal, começam os verdadeiros problemas para a estação... Algumas semanas mais tarde, O'Brien está de malas feitas e vai deixar a NBC. E é a partir desse momento que se fazem algumas das melhores edições de todos os tempos do Tonight Show.
Sempre fui fã de Conan O'Brien. A sua irreverência, inteligência e acutilância. Mas sempre o achei também um narcisista obcecado com o culto da sua própria imagem (e continuo a achá-lo). Sempre entendi faltar-lhe algum veneno; as críticas pareciam demasiado veladas, o risco da ofensa desempenha um papel fundamental no interdito deste comediante. A importância de
agradar a um público maioritariamente conservador, "borderline" reaccionário, de valores cristãos e, mais importante ainda, americano. Conan nunca deixou de se preocupar quem ofendia e de que forma o fazia. Este aspecto sempre me fez pensar que, em última instância, o mítico apresentador preferiria salvar a própria pele a dizer algo inconveniente sobre alguém que pudesse comprometer o seu trajecto. E feita a transição para o Tonight Show, o risco seria ainda maior (mais público, mais velho, horário nobre e ainda a responsabilidade de ocupar o lugar de Leno) E não é que eu não podia estar mais enganado? Desde que eclodiu esta crise na NBC, Conan O'brien tem estado inspiradíssimo, cáustico e até um pouco cínico. Brilhante! Bravo. O 
apresentador provou, para além de qualquer dúvida razoável, que só não critica quando não o deseja, não ofende porque entende que nem George W. Bush merece ser ofendido. Mas quando os executivos da estação norte-americana fazem para o merecer, Conan é implacável. E com toda a legitimidade.
Quando escrevo este texto o "Tonight Show With Conan O'Brien" já fez a sua última emissão. Conan despediu-se com grande estilo e elevação. Recebeu nestes últimos dias algumas figuras proeminentes do "showbiz" como Martin Scorsese, Quentin Tarantino, Tom Hanks ou Will Ferrell (todos eles apoiantes incondicionais da causa recente do apresentador). O'Brien provou-me, nestas últimas semanas, que é o melhor "talk show host" dos Estados Unidos da América.
Podemos encontrar neste caso uma clara dicotomia que tem sido cada vez mais frequente no mundo do entretenimento e informação televisivos. A figura, o carisma, o sujeito; contra o grupo, os accionistas, o interesse comercial/político. Sabemos que Conan nunca poderia ganhar esta guerra, e que inevitavelmente teria de abdicar do seu novo programa. Mas sabemos também que hoje o espectador vive uma relação especial com o sujeito mediático e que, graças às novas redes sociais e à forma como estas se organizam, e graças à forma como os intervenientes vêm esta nova relação multiplataformas, a estrela já não "morre" enquanto o público não desejar que ela desvaneça. E muito embora Conan esteja de partida do Tonight Show, ele já fez saber pela Internet que, pelo menos num futuro próximo, não lhe faltará emprego.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Aussie Open

Tenho acompanhado através do canal de cabo Eurosport a transmissão do Open da Austrália em Ténis. Um acontecimento fabuloso e dos mais badalados do desporto mundial. Felizmente, a transmissão desportiva (alguma) muda com os tempos, e neste caso os comentadores 
recorreram ao Twitter para recolher impressões dos espectadores, factor decisivo para que a transmissão televisiva de um evento deste tipo faça sentido - sobretudo nos horários em que no nosso país passa o Open (entre a meia-noite e as 11 da manhã).Para além disso, o espectador mais atento pode ainda disfrutar do Eurosport Player, uma plataforma online que nos permite, apenas por 5€, assistir aos jogos do Open em directo e ainda às gravações de alguns jogos históricos passados neste ou noutro torneio dos denominados "Big Four" (Austrália, França, Inglaterra e Estados Unidos da América). Existe também (e também muito felizmente) um aparelho de nome "TV box", que me permite gravar todas estas delícias e mais umas tantas, para as poder ver posteriormente (mais uma vez em função da diferença horária para a Austrália, que me impede de ver a maioria dos jogos em directo).
Para já, estou estupefacto com a prestação Justine Henin. A atleta belga, depois de uma época inteira de hiato regressa e ruma à final no seu primeiro grand slam depois do "comeback"; e ainda a fantástica participação de Victoria Azarenka e Marin Cilic, dois jovens jogadores que se afirmam neste Open como talentos de GRANDE futuro na competição singular feminina e masculina, respectivamente.

A grelha e o directo

O meu ímpeto de proto-comentador desportivo toma conta em certas ocasiões. Quando explode a polémica no mundo do futebol, então aí sucede-se ensurdecedor disparar de comentários e oposições.
Como é sobejamente conhecido nos meandros da televisão, nomeadamente da informação televisiva, a transmissão em directo, ou "a urgência do directo" tomam inúmeras vezes o lugar dos programas previamente agendados, pelos quais muito boa gente aguarda (e em pleno direito, já que lhes foi garantida essa transmissão por uma grelha pré-existente) todos os dias. Ora, o directo inverte tudo isto. Correndo o risco de passar por ultra-polémico, e de ser acusado da leviandade de preterir a relevância da corrente situação política e económica nacional para um mero programa semanal de comentário desportivo, venho manifestar o meu desacordo e desagrado para com o ocorrido na passada noite de terça-feira, 26 de janeiro, noite essa em que a RtpN decidiu, ao contrário do programado - e mais uma vez refiro-me à tal "grelha" cujo principal propósito será fidelizar os telespectadores - transmitir um especial noticioso em directo. Razão? O ministro das Finanças do governo português, Teixeira dos Santos, está finalmente a preparar-se para anunciar as linhas gerais do orçamento de estado para 2010. Começo pelo talvez questionável horário do sucedido. Que o orçamento deste ano teria que passar pelo buraco da fechadura (ou seja, pela abstenção à direita), isso já esperávamos. Mas uma apresentação rasca em power point às 23:30 da noite?! Sinceramente, senhor ministro... Compreendo o embaraço de Portugal chegar ao fim do primeiro mês do primeiro ano desta nova década sem um orçamento aprovado, mas seria tão importante assim lançá-lo na Terça, mesmo que claramente fora de horas e sendo a grande maioria da informação transmitida quase irrelevante? "Procurámos enquadrar os dados do crescimento com as expectativas da UE"... ; "a principal prioridade do governo será o desemprego e o combate ao défice orçamental"... A única informação de facto relevante em todo este debacle será a revisão da dívida pública, para 9,3% do PIB. Terá provavelmente ocorrido ao ministro que as chatices e as perguntas seriam reduzidas a pouco ou nada se a apresentação se realizasse a uma hora em que de facto todos os presentes só desejavam regressar a casa para o (tão merecido) descanso. 
Regressando então à questão inicial, em que o canal noticioso RTPN transmitiria hipotéticamente, das 22.30 às 00.00 desta Terça-feira o programa de comentário desportivo Trio de Ataque. De facto, o que ao invés sucedeu foi um especial de informação que durou mais de uma hora, com o único intuito de encher chouriços até que o ministro falasse. Os comentadores do costume, os comentários de sempre - "menos estado" "despesismo" etc etc... - já estamos fartos de saber. E de tudo o que o ministro disse, das 23.30 à meia noite - tempo que durou a sua apresentaçãozinha - reti de útil o valor revisto do PIB, que poderia ter sido facilmente comentado e escalpelizado no jornal da meia-noite da mesma RTPN, meio precisamente indicado para a actualização noticiosa e no qual o directo faria todo o sentido. Em vez disso, tivemos um "especial informação" (que não sei bem o que teve de especial nem sequer de que insidiosa novidade me terá informado) durante a duração virtual do programa desportivo. 
Toda esta conjugação de acontecimentos leva-me à simples conclusão que a estação pública de televisão trata a informação como entretenimento, que degrada a importância de uma grelha para a imposição de um directo que de si é muitas vezes empobrecedor (normalmente o directo é uma combinação de pedaços em que um jornalista "in loco" procura descrever a situação corrente, não passando de uma série de gags, soudbytes e observações situacionistas e irrelevantes - lembremo-nos dos directos nas noites eleitorais antes de se saberem os resultados sufragados). Embora a política tenha uma relevância social ainda maior que a do desporto (e estou a pesar devidamente as palavras), um programa de hora e meia agendado para discutir o grave clima de suspeita e de "jihad" que se vive no futebol português é util e de grande interesse. Programa este ainda protagonizado por algumas figuras muito importantes no universo clubístico e até com alguma influência nas respectivas direcções (talvez à excepção de António-Pedro Vasconcelos, uma figura um pouco mais marginal ao regime de LF Vieira), que será porventura mais útil que uma emissão com os mesmos noventa minutos, na qual ao fim de oitenta e poucos, há um senhor que afirma "afinal vamos rever o valor do défice em alta para 9,3%".
Com o seu magnífico anúncio, o ministro das finanças português conseguiu mais uma vez captar
a atenção mediática dos "pack journalists", fazendo uma apresentação noctívaga e madrugadora do seu orçamento para um ano que já começou. E mais uma vez este governo prova-se como "media savy", sabendo melhor que ninguém criar uma notícia - que à falta de melhor conteúdo,
acaba por ser justificada num especial informativo de uma hora que precedeu o pseudo-acontecimento. 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Love Is a Losing Game

Dada a recente Amymania pessoal, aqui exponho essa profunda voz, ainda que momentaneamente delicada e cheia de soul power. Amy Winehouse, 24 anos, Inglesa, detentora da mais portentosa voz feminina registada desde os memoráveis e prolíferos em divas 70's da Stax e Motown.



Amy Winehouse - Love Is a Losing Game
Back to Black (2006)

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Hats

The Blue Nile - Hats (1989)



1 - Over the Hillside 5:05
2 - The Downtown Lights  6:29
3 - Let's Go Out Tonight  5:16
4 - Headlights on the Parade  6:16
5 - From a Late Night Train  4:01
6 - Seven A.M.  5:09
7 - Saturday Night  6:27



"This album was a one-off. The music comes out raw, tender, vulnerable, hard, achingly human, logical and, on the wrong days, almost unbearably emotional.

The songs on Hats are stripped bare. Tempos are, for the most part, hypnotically slow. Sparse drums, the barest skeletons of structure sketched in on tinkling pianos, occasional pastel washes of synthetic strings, and Paul Buchanan's haunted voice carrying fragile strands of melody that melt away into the backdrop before you've quite grasped them.
It's almost like they spent time in making the record deciding how much they could leave out and still have enough meat and bone to allow the songs to stand up.

Lyrically, too, less is more. Standard American songwriting cliches involving headlights, trains rolling round bends, times of day, weather conditions, are employed knowingly, using their comfortable warmth to set the listener up for the drop into a bleak abyss of angst and loneliness.
Music and lyrics combine to create one solitary atmosphere, the feeling of loss, the feeling we all share and don't ever know why.

Fortunately, nestling in all this loneliness, there's solace. There's knowing that somebody else feels it too, and lives with it. There's the closing track, "Saturday Night", in which Buchanan celebrates the ordinary girl who can make everything all right.
If Hats has a flaw, it's only that it is too perfect, too considered.
I commend this record to house and to all concerned."


domingo, 6 de janeiro de 2008

Gigantic

Acabei agora de ver "United States of Leland". Tudo me impressionou. Escolhas musicais inclusive.



Pixies - Gigantic

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

A Inevitável Retrospectiva

Aqui ficam os melhores de 2007. Não por ordem crescente qualitativa, nem pela data de lançamento, mas por relevância autobiográfica. Ah, e já agora, são 15.

1.  The Shins - Wincing the Night Away

2.  Of Montreal - Hissing Fauna, Are You the Destroyer?

3.  LCD Soundsystem - Sound of Silver

4.  Kings of Leon - Because of the Times

5.  Spoon - Ga Ga Ga Ga Ga

6.  The Arcade Fire - Neon Bible

7.  M.I.A. - Kala

8.  Bright Eyes - Cassadaga

9.  Panda Bear - Person Pitch

10. Radiohead - In Rainbows

11. Battles - Mirrored

12. Feist - The Reminder

13. The National - Boxer

14. The Besnard Lakes - ... Are the Dark Horse

15. Neil Young - Chrome Dreams II


Que o próximo ano seja tão ou mais próspero musicalmente quanto o que agora finda. Possivelmente, 2008 trará alguns regressos ao estúdio de artistas e colectivos ansiosamente aguardados: Portishead, Rage Against The Machine, Led Zeppelin 
ou Death From Above 1979. Será desta?

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Neo-Surrealismo musical (ou o sonho do Rap)

O período consagrado entre as décadas finais do século XX e o presente dia terá sido, porventura, o que mais admirou teórica e existencialmente os trâmites morais e paradigma estético das revoluções artísticas principiadas cerca de cem anos antes. Os quadros de artistas como Picasso ou Van Gogh tornaram-se os mais apreciados em valor e estima de muitos coleccionistas, enquanto o legado de filosófico de Freud, Nietzsche ou Dali é sobreposto ao mapa humano actual. Numa sociedade que aceita tão facilmente dependências e vício como compromete tais actos a alheada responsabilidade (não alheia). Talvez um alienígena que viva dentro de nós, um monstro de instintos e impulsos devidamente armazenados e compactados à espera de ser revelado. E este ser poderá, eventualmente, encontrar algumas respostas consultando o seu próprio historial, o desorganizado diário mantido pelo nosso cérebro.

Em plena harmonização das diferentes artes e associação de alguns dos seus trajectos, surge um movimento musical inspirado no ritmo da própria poesia autobiográfica: o Rap. Nos seus primeiros anos de vida, terá sustentado bases nos ritmos africanos e pendor electronizado que a indústria e o meio criativo musical herdam dos transformadores anos 80. Pouco tempo mais tarde, tal como sucedera na longínqua história do Jazz, o Rap expande-se para todos os estilos musicais alcançáveis: Blues, Soul, Jazz, Funk, Clássica e até Rock. Actualmente, e após duas décadas de constantes revoluções e promiscuidades sonoras, o Rap colocou-se numa posição artística única. Dispõe de uma infinitude de escolhas, podendo incluir qualquer som ou ruído captado por um manhoso gravador que esteja presente no momento e lugar oportunos. Uma espécie de mental notes. Assim se libertam os seus criadores de eventuais restrições no que toca a meios de representar o corrente estado de espírito, e assim o fazem com assustadora perfeição. Sampling, Internet, ritmo e poesia garantem uma independência linguística e comunicacional sem barreiras, num processo surrealista de religação à alma. São captados suspiros, ecos, memórias e clarões, enfim, entranhas. A mescla traz o passado, e invoca o reprimido. A essência é chamada ao palco e abandona por momentos a lembrança que, a partir de algum momento cuja data e circunstâncias desconhecemos, escolhemos fazer de conta que o monstro não precisa de sair à rua de vez em quando.