quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Love Is a Losing Game

Dada a recente Amymania pessoal, aqui exponho essa profunda voz, ainda que momentaneamente delicada e cheia de soul power. Amy Winehouse, 24 anos, Inglesa, detentora da mais portentosa voz feminina registada desde os memoráveis e prolíferos em divas 70's da Stax e Motown.



Amy Winehouse - Love Is a Losing Game
Back to Black (2006)

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Hats

The Blue Nile - Hats (1989)



1 - Over the Hillside 5:05
2 - The Downtown Lights  6:29
3 - Let's Go Out Tonight  5:16
4 - Headlights on the Parade  6:16
5 - From a Late Night Train  4:01
6 - Seven A.M.  5:09
7 - Saturday Night  6:27



"This album was a one-off. The music comes out raw, tender, vulnerable, hard, achingly human, logical and, on the wrong days, almost unbearably emotional.

The songs on Hats are stripped bare. Tempos are, for the most part, hypnotically slow. Sparse drums, the barest skeletons of structure sketched in on tinkling pianos, occasional pastel washes of synthetic strings, and Paul Buchanan's haunted voice carrying fragile strands of melody that melt away into the backdrop before you've quite grasped them.
It's almost like they spent time in making the record deciding how much they could leave out and still have enough meat and bone to allow the songs to stand up.

Lyrically, too, less is more. Standard American songwriting cliches involving headlights, trains rolling round bends, times of day, weather conditions, are employed knowingly, using their comfortable warmth to set the listener up for the drop into a bleak abyss of angst and loneliness.
Music and lyrics combine to create one solitary atmosphere, the feeling of loss, the feeling we all share and don't ever know why.

Fortunately, nestling in all this loneliness, there's solace. There's knowing that somebody else feels it too, and lives with it. There's the closing track, "Saturday Night", in which Buchanan celebrates the ordinary girl who can make everything all right.
If Hats has a flaw, it's only that it is too perfect, too considered.
I commend this record to house and to all concerned."


domingo, 6 de janeiro de 2008

Gigantic

Acabei agora de ver "United States of Leland". Tudo me impressionou. Escolhas musicais inclusive.



Pixies - Gigantic

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

A Inevitável Retrospectiva

Aqui ficam os melhores de 2007. Não por ordem crescente qualitativa, nem pela data de lançamento, mas por relevância autobiográfica. Ah, e já agora, são 15.

1.  The Shins - Wincing the Night Away

2.  Of Montreal - Hissing Fauna, Are You the Destroyer?

3.  LCD Soundsystem - Sound of Silver

4.  Kings of Leon - Because of the Times

5.  Spoon - Ga Ga Ga Ga Ga

6.  The Arcade Fire - Neon Bible

7.  M.I.A. - Kala

8.  Bright Eyes - Cassadaga

9.  Panda Bear - Person Pitch

10. Radiohead - In Rainbows

11. Battles - Mirrored

12. Feist - The Reminder

13. The National - Boxer

14. The Besnard Lakes - ... Are the Dark Horse

15. Neil Young - Chrome Dreams II


Que o próximo ano seja tão ou mais próspero musicalmente quanto o que agora finda. Possivelmente, 2008 trará alguns regressos ao estúdio de artistas e colectivos ansiosamente aguardados: Portishead, Rage Against The Machine, Led Zeppelin 
ou Death From Above 1979. Será desta?

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Neo-Surrealismo musical (ou o sonho do Rap)

O período consagrado entre as décadas finais do século XX e o presente dia terá sido, porventura, o que mais admirou teórica e existencialmente os trâmites morais e paradigma estético das revoluções artísticas principiadas cerca de cem anos antes. Os quadros de artistas como Picasso ou Van Gogh tornaram-se os mais apreciados em valor e estima de muitos coleccionistas, enquanto o legado de filosófico de Freud, Nietzsche ou Dali é sobreposto ao mapa humano actual. Numa sociedade que aceita tão facilmente dependências e vício como compromete tais actos a alheada responsabilidade (não alheia). Talvez um alienígena que viva dentro de nós, um monstro de instintos e impulsos devidamente armazenados e compactados à espera de ser revelado. E este ser poderá, eventualmente, encontrar algumas respostas consultando o seu próprio historial, o desorganizado diário mantido pelo nosso cérebro.

Em plena harmonização das diferentes artes e associação de alguns dos seus trajectos, surge um movimento musical inspirado no ritmo da própria poesia autobiográfica: o Rap. Nos seus primeiros anos de vida, terá sustentado bases nos ritmos africanos e pendor electronizado que a indústria e o meio criativo musical herdam dos transformadores anos 80. Pouco tempo mais tarde, tal como sucedera na longínqua história do Jazz, o Rap expande-se para todos os estilos musicais alcançáveis: Blues, Soul, Jazz, Funk, Clássica e até Rock. Actualmente, e após duas décadas de constantes revoluções e promiscuidades sonoras, o Rap colocou-se numa posição artística única. Dispõe de uma infinitude de escolhas, podendo incluir qualquer som ou ruído captado por um manhoso gravador que esteja presente no momento e lugar oportunos. Uma espécie de mental notes. Assim se libertam os seus criadores de eventuais restrições no que toca a meios de representar o corrente estado de espírito, e assim o fazem com assustadora perfeição. Sampling, Internet, ritmo e poesia garantem uma independência linguística e comunicacional sem barreiras, num processo surrealista de religação à alma. São captados suspiros, ecos, memórias e clarões, enfim, entranhas. A mescla traz o passado, e invoca o reprimido. A essência é chamada ao palco e abandona por momentos a lembrança que, a partir de algum momento cuja data e circunstâncias desconhecemos, escolhemos fazer de conta que o monstro não precisa de sair à rua de vez em quando.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

L.A. woman, you're my woman

Jim Morrison. The Doors. California. Drugs. Psychedelic. Euforia. Erotic Politicians. Lizard King. Boulevard. Mr Mojo Rising. "Our best record since the debut". Serão keywords suficientes?  Aqui fica mais uma: L.A. Woman.



A um dos mais perfeitos discos de Rock de sempre, aqui fica a minha breve homenagem a cada irrepetível faixa, a cada precioso momento contido nestes 50 minutos.

01 - The Changeling
02 - Love Her Madly
03 - Been Down So Long
04 - Cars Hiss By My Window
05 - L.A. Woman
06 - L'America
07 - Hyacinth House
08 - Crawling King Snake
09 - The Wasp
10 - Riders On The Storm

domingo, 11 de novembro de 2007

Finalmente, The Shins!

Questiono-me constantemente acerca das razões que me fazem gostar tanto desta banda. Eis, então, a minha simples teoria: para jovens que não querem sê-lo, assim se revendo na poética manipulada (mas com propósito) dos Shins, ou ainda para os menos jovens que respiram alguma fantasia alimentada por ambiências adocicadas, a banda cumpre totalmente ambos propósitos. Com eles nadamos em delírios sonhados por um qualquer adolescente em vésperas de se deprimir e finalmente aceitar um destino monótono. Viola-nos simultaneamente a dura lírica que, por entre cenários inspirados em Pet Sounds ou a invulgar Rock Opera que nos leva até Pepperland - Yellow Submarine -, nos adverte e canta (e aqui submeto o termo canto a um enquadramento épico, qual sereia camoneana, anunciando o destino trágico que anseia impôr-se - a submissão à "ocidentalidade"). Uma violência muito contida e almofadada.
Identifico-me com o primeiro dos perfis, aquele que se vê obrigado a crescer pela cinzenta realidade que o rodeia. Mas muito me revejo também na segunda personagem, guardando no âmago uma pequena esperança de que o mundo ainda pode ser encarado com alguma ingenuidade. E porque somos plenos em contradições e dualidades, a música dos Shins só pode fazer sentido.

The Shins - Saint Simon


domingo, 21 de outubro de 2007

...Amnesiac?

Atempadamente, e seguindo o barulho blogosférico que o recente lançamento de "In Rainbows" acendeu, propus-me a reavaliar essa histórica banda que são os Radiohead. Sim, presentes 15 anos de experiência, sentimo-nos tão dignos de admirar Thom Yorke como Jim Morrison ou Nick Cave. O singular e introspectivo rapaz que nos fala em dor e cansaço, desilusão e sofrimento, parece investido, no entanto, em fazer-nos crer na salvação. E cada novo disco dos Radiohead prova esse renascimento, erguendo-nos da mais desesperada profundeza à ligação com a dita essência. E Yorke explora este conceito de uma forma biblicamente meticulosa.

Não se trata este artigo, no entanto, de um louvor ao último trabalho desta banda (embora certamente ele mereça tal empenho), mas um relembrar do que já foi e continua a ser um marco para os Radiohead. Não "Kid A", que com os seus múltiplos méritos sonoros e poéticos poderia preencher uma obra surrealista. Também não relembro "Ok Computer", embora admita que este merece contemplações regulares e activas (esta última porque não controlo os próprios movimentos quando Thom Yorke uiva "Uptight", em "Subterranean Homesick Alien"). Ficam de fora "The Bends" e "Hail to The Thief" álbuns um pouco abaixo - hesito e não garanto subscrever o uso da anterior expressão - ainda assim dignos de grande empatia. Esqueço "Pablo Honey" por razões óbvias. Não censurando, considero-o uma fraca demonstração do potencial da banda. Dedico-me, por exclusão de hipóteses, à (re)descoberta de Amnesiac.


Por um largo período residiu a minha crença na distância milenar pendente entre Ok Computer e os restantes discos dos Radiohead. Não tinha ainda ultrapassado a multitude sónica, complexa e perfeita das fundações deste disco. A insistência em Kid A (e a óbvia recompensa daí advinda) permitiu-me chegar a Amnesiac, que me provou recentemente ser par dos seus dois antecessores. Sabendo que todas as músicas neste disco foram gravadas aquando de Kid A, não lhes retira qualquer mérito terem sido guardadas para posterior edição, concretizada pouco tempo depois. Em Amnesiac o ecletismo é omnipresente, e cada canção parece tirada de um sombrio sonho com adereços só possíveis em fantasias.

A primeira melodia ("Packt' Like Sardines..."), seca e desiludida (não uma desilusão), anuncia o tom electrónico e o compasso moody, características que serão constantes ao longo do disco. Sabemos imediatamente que se avizinha uma viagem atribulada ao negrume da alma do autor, e confirma-se a suposição quando ouvirmos "You think you drive me crazy" sussurrado num intimista tom de choro, ecoando na suspeita calmaria que antecede a tempestade em "You And Whose Army?". No meio estão "Pyramid Song", deliciosa balada em contratempo, debate eterno entre piano e bateria - possivelmente suplantado pela deprimida e bela voz de Yorke descrevendo uma descida às profundezas do seu ser- ; e "Pulk/Pull...", uma viagem ao passado , aquele dos beats de Aphex Twin e do Underground londrino dos anos 90. Uma sugestiva sucessão à faixa de abertura, insistindo ainda na cultura electrónica.
Segue-se "I Might Be Wrong", a perfeita transição para a segunda fase do disco, uma mais insistente nas guitarras e nos desafios existencialistas à luz da sociedade moderna. Esta canção pode ser interpretada como uma antologia do que os Radiohead conquistaram até então (e, possivelmente, até do que veio a ser consolidado mais tarde), unindo com precisão matemática as várias sonoridades experimentadas, criando um épico confronto entre o idealizado e o concretizado, o rock e a música electrónica.
"Knives Out" enfatiza a ideologia supramencionada e oferece-nos guitarra suficiente para compensar as omissões deste instrumento em outras faixas. Thom Yorke, entretanto, persegue ratos (ou outros animais de cérebro diminuído) dentro de sótão alheio, procurando cozinhar o passado que deseja olvidar. "Morning Bell" relembra Kid A, embora numa versão melhorada: sentimos que quase podemos saborear aquela doce melodia, que lentamente nos carrega para uma discreta mas embaladora apoteose. "Dollars And Cents" é o momento "Ok Computer" de "Amnesiac". A revolta (contida) apodera-se de todos - banda e ouvintes - e sente repulsa pelos paranóicos andróides, que não falam nem pensam senão em dinheiro. "Hunting Bears", instrumental curioso, não parece corresponder à fasquia herdada dos muitos pontos altos de "Amnesiac". Garante, afortunadamente, dois minutos de calmaria reflectiva, essenciais à recuperação de energias mentais e auditivas, para poder assim apreciar devidamente duas das melhores músicas deste álbum: "Like Spinning Plates" e "Life In A Glasshouse".


A primeira destas, inevitável e imediata viagem sensorial configura em seu contexto um tom de pré-despedida, pós-Kraftwerk, pós-ambiente, (quase cavernosa na sua batida em inversão e berrante em pleno uso do sintetizador) ao que se sucede uma epifania final - original homenagem a Angelo Badalamenti, o senhor compositor do Twin Peaks e derivados de outros devaneios Lynchianos. Inicia-se então o último capítulo com inclinação electrónica. "Life In a Glasshouse", delírio jazzístico e vagamente kurt-weilliano anuncia o desgaste que traz a paranóia, último suspiro de um louco em queda, para sempre observado e destruído ("Well of course I'd like to stay and chew the fat (...) Only there's someone listening in"), desejando sobreviver aos vícios letais e incessantes pequenas amarguras que a existência absorve dia após dia.


Não queremos porém esquecer-nos deste singular álbum. Tal invulgaridade é atestada pela maturidade ironicamente severa dos Radiohead, presente em cada pequena revolução sónica. Neste caso são onze. Existe no trabalho do conjunto uma lição musical essencial, que deveria estar presente, através de papel gasto e escrevinhado, no manual teórico de todas as bandas que ultrapassam a marca do terceiro disco: nunca desistir, enquanto músico e criativo, de provocar os atrofiantes limites dos géneros musicais impostos. Amnesiac suporta o teste do tempo e arranca-lhe uma consistência invulgar, provando-se como uma peça de antecipação - Radiohead antes de muita electrónica, Mr. Thom Yorke antes de Mr. James Murphy e Mr. Win Buttler. Antes, também, de Kid A?

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Pulp - Do You Remember The First Time?

Depois de mais um longo período sem postagens (ao que se avizinha uma série de longos períodos sem postagens), decidi deixar neste espaço mais uma grande música. Desta feita, de Jarvis Cocker e dos seus rapazes Pulp. Do you remember the first time? Não evoca romance, muito menos nostalgia. But you know we've changed so much since then...

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Bob on Bob (and everyone else) - Parte I


Que Bob Dylan não tem o timbre mais admirável e melodioso da história da música cantada, isso já todos sabemos. Mas como ele existem outros: Lou Reed, Ian Curtis, Jimi Hendrix ou mesmo Tom Waits (este se quisermos ser maliciosos). E destes senhores provêm alguns dos maiores hinos da história do Rock e de algum Pop- sendo que neste último a ausência de qualidades vocais é mais difícil de suplantar. Deles ouvimos "Heroin", "Transmission" ou "Are You Experienced?", apenas para citar um exemplo.
Sabendo que o desbravar de novos terrenos e conjugar influências na música não requer um talento de voz único, ponhamos em pratos limpos o seguinte: Bob Dylan esteve em todo o lado. Musical e geográficamente. Acordou para a música graças ao Rock n' Roll, influenciado pelos então recentes anos 50 de Elvis Presley e Jerry Lee Lewis. Depressa se imergiu no Folk norte-americano, lembrando a tradição cantautor de Woody Guthrie. Esta era legou-nos quatro fantásticos álbuns, completados entre 1962 e '65. Seguiu-se então o Blues e Jazz de Muddy Waters, Robert Johnson ou Miles Davis, que influenciariam grandemente a sua produção musical de 1965 até à era da desilusão Hippie, lá para inícios de 70's. Ficaram aqui registados alguns dos álbuns mais influentes de Dylan, de que são exemplos os LPs Highway 61 Revisited(1965) e Blonde on Blonde (1966), criados com o apoio dos The Band, (músicos de talento irrepetível e donos de uma bela discografia sem B.D.) que ajudaram a acertar o compasso do Country-Blues.
Seguiu-se uma década de maior introspecção do autor, nunca este preterindo, no entanto, a música pela poesia. Ainda houve tempo para escrever mais algumas obras-primas, como Blood On The Tracks (1975) e Desire (1976). Aqui Dylan explora a desilusão amorosa, e os solavancos nem sempre desejáveis de uma civilização em queda. Encontramo-lo aos 35 anos com meia dúzia de álbuns geniais produzidos, e muitos outros de qualidade indubitável. Sempre em busca de uma nova sonoridade, nunca cansado de baralhar as contas a melómanos como eu, redesenhando as fronteiras do Rock e sobretudo lembrando-nos que estes mesmos limites não são nada mais que convencionados, nunca impostos. Sobretudo porque Bob Dylan nunca se esqueceu, ao longo de toda a carreira, de fazer uma antologia em todos os novos discos, coleccionando antes de mais as sonoridades que já lhe foram familiares no passado. E este cocktail torna-o único.