sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Benfiquismos...

Ultimamente, algumas ocorrências têm incomodado profundamente o âmago do futebol em Portugal. E faço já a minha declaração de interesse para evitar equívocos: sou benfiquista. 

A forma como o SL Benfica tem sido desqualificado por tantos opinion-makers (um pouco como na política, são cada vez mais soundbyte-makers) em função dos seus jogos de bastidores - quando na verdade o futebol exibido pela sua equipa é esplendoroso, e seguramente o melhor em muitos anos - é no mínimo curiosa.

Não deixa de ser irónico que o primeiro a apontar o dedo seja o FC Porto, que tem tentado (e conseguido) dominar os órgãos decisores do futebol profissional nos últimos 30 anos. Segue-se o Sporting CP, que bem sabemos não exercer pressões fora do campo por nunca ter adquirido suficiente poder de influência para esse efeito. Não venham agora com a fábula moralista do clube que não se mete em confusões de disputa do poder porque é puro no espírito, incorruptível e coitadinho. Sabemos bem que muitos sportinguistas não se importariam de relegar o Benfica à segunda divisão por decreto, tal é o seu ódio pelo rival lisboeta. Finalmente, resta da tríade de acusadores impolutos o Sporting de Braga que, ainda assim, terá alguma razão de queixa. Mas não significa isto que se deva queixar constantemente. Podemos facilmente constatar pela posição do Braga no campeonato que não têm sido tão prejudicados como afirmam. Quando, na primeira metade da competição, gozou do estatuto "revelação", e foi por isso mais que favorecido pelas arbitragens, o Braga falou muito pouco. Considero inequivocamente exagerado o castigo a Vandinho (3 meses de suspensão).
Mas serei eu o único a entender que uma agressão (ou tentativa de) fora das 4 linhas é sempre mais grave que uma ocorrência semelhante mas durante a partida? Que um jogador perca a cabeça em campo, quando está no pico da adrenalina e ebulição na disputa do jogo, é normal (embora deva ser sancionado). Agora fora do campo, já terminado o jogo, não tem desculpa. É claro que em função disso já outros jogadores ou dirigentes do Benfica poderiam ou deveriam ter sido castigados pelas ocorrências testemunhadas nos túneis.

Vamos então aos túneis: podemos discutir o papel dos stewards, ou a sua injustificada presença nestes túneis de acesso ao relvado. Podemos até afirmar que é intencional a estratégia do Benfica para condicionar ou provocar os atletas do Porto, no intuito que estes se sintam mais nervosos e que consequentemente produzam menos em campo. Daí a inferir que tudo terá sido pré-planeado de forma a armar uma cilada, com o objectivo de fazer com que alguns jogadores do FCP não voltassem a jogar esta época, isso parece-me francamente rebuscado. Até porque esta suposta conspiração implicaria um contacto prévio com a Liga de Futebol Profissional - cujo presidente é, recordo, Hermínio Loureiro - para se entenderem quanto à possibilidade destas situações de confronto físico entre jogadores e Stewards resultarem em castigos para os jogadores do Porto. Não iria o Benfica correr o risco de planear antecipadamente uma situação destas, para que depois não se imputasse qualquer responsabilidade sob os atletas seus adversários. Mas esta, por mais disparatada que seja, é uma acusação gravíssima. Se há castigos relativos aos túneis que não foram devidamente aplicados ao Benfica, eles não se devem a um "jeito" ou "favor", mas à incapacidade da Liga de Clubes em mediar todo este conflito, ficando-se pelas punições aos atletas transgressores (bem aplicadas) e ignorando a importância de uma "estratégia do túnel". Isto não poderá nunca ser imputado aos responsáveis do SL Benfica ou aos seus funcionários. 

O que transparece de tudo isto é que a Liga de Futebol tem este ano efectivamente favorecido mais o Benfica. Sim, isto é para mim inegável. Porque tem os melhores craques? É uma possibilidade. Porque o seu futebol é um dos mais esplendorosos que se joga actualmente na Europa? Talvez. Porque exerce a sua influência na Liga como Porto, Sporting e Braga tentam fazer (obviamente em proporções diferentes)? Provável. Será isso tão diferente assim de uma direcção da Liga composta maioritariamente por sócios do FCP durante anos a fio? Não me parece. É certamente diferente do presidente de um clube que discute "fruta" ao telefone com um dos antecessores de Vitor Pereira na presidência da comissão de arbitragem. 

É razoável para mim a percepção pública generalizada que Luís Filipe Vieira não está acima de qualquer suspeita, e que não será certamente o indivíduo mais "limpo" a atravessar a história do futebol profissional neste país. Muito pelo contrário. Mas o sr. Presidente 

Vieira é o que sempre foi, tal como o Sr. Presidente Pinto da Costa o é também. Se querem acusar o benfica de um conspiração com a Liga de Clubes, e de um arranjo premeditado para oferecer este campeonato ao Benfica, arranjem provas. Para que depois possamos (quiçá) ser ilibados por falta das mesmas. Se preferem acusar a Liga de ser "fraca" e ceder facilmente às pressões do Benfica eu questiono, que direcção passada da Liga não foi assim? 

Bem sabemos que em Portugal os clubes grandes são incontornáveis em todas as decisões importantes. Não sejamos ingénuos: os grandes europeus, como o Real Madrid, o Arsenal, o Man Utd ou o Inter movem-se da mesma forma - criam redes de influência no intuito de afectar as decisões ao mais alto grau. O comportamento e conduta que se espera de um presidente de um clube não será, certamente, mais exigente que aquele que se pede ao Primeiro-Ministro do mesmo país. E no estado em que está a nossa política, quem vai atirar a primeira pedra?

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