segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Bob on Bob (and everyone else) - Parte I


Que Bob Dylan não tem o timbre mais admirável e melodioso da história da música cantada, isso já todos sabemos. Mas como ele existem outros: Lou Reed, Ian Curtis, Jimi Hendrix ou mesmo Tom Waits (este se quisermos ser maliciosos). E destes senhores provêm alguns dos maiores hinos da história do Rock e de algum Pop- sendo que neste último a ausência de qualidades vocais é mais difícil de suplantar. Deles ouvimos "Heroin", "Transmission" ou "Are You Experienced?", apenas para citar um exemplo.
Sabendo que o desbravar de novos terrenos e conjugar influências na música não requer um talento de voz único, ponhamos em pratos limpos o seguinte: Bob Dylan esteve em todo o lado. Musical e geográficamente. Acordou para a música graças ao Rock n' Roll, influenciado pelos então recentes anos 50 de Elvis Presley e Jerry Lee Lewis. Depressa se imergiu no Folk norte-americano, lembrando a tradição cantautor de Woody Guthrie. Esta era legou-nos quatro fantásticos álbuns, completados entre 1962 e '65. Seguiu-se então o Blues e Jazz de Muddy Waters, Robert Johnson ou Miles Davis, que influenciariam grandemente a sua produção musical de 1965 até à era da desilusão Hippie, lá para inícios de 70's. Ficaram aqui registados alguns dos álbuns mais influentes de Dylan, de que são exemplos os LPs Highway 61 Revisited(1965) e Blonde on Blonde (1966), criados com o apoio dos The Band, (músicos de talento irrepetível e donos de uma bela discografia sem B.D.) que ajudaram a acertar o compasso do Country-Blues.
Seguiu-se uma década de maior introspecção do autor, nunca este preterindo, no entanto, a música pela poesia. Ainda houve tempo para escrever mais algumas obras-primas, como Blood On The Tracks (1975) e Desire (1976). Aqui Dylan explora a desilusão amorosa, e os solavancos nem sempre desejáveis de uma civilização em queda. Encontramo-lo aos 35 anos com meia dúzia de álbuns geniais produzidos, e muitos outros de qualidade indubitável. Sempre em busca de uma nova sonoridade, nunca cansado de baralhar as contas a melómanos como eu, redesenhando as fronteiras do Rock e sobretudo lembrando-nos que estes mesmos limites não são nada mais que convencionados, nunca impostos. Sobretudo porque Bob Dylan nunca se esqueceu, ao longo de toda a carreira, de fazer uma antologia em todos os novos discos, coleccionando antes de mais as sonoridades que já lhe foram familiares no passado. E este cocktail torna-o único.

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