domingo, 31 de janeiro de 2010

Aussie Open

Assisti ontem a mais um jogo dos quartos-de-final do Open da Austrália entre Jo-Wilfried Tsonga e Novak Djokovic. Em teoria, seria um apoiante fervoroso do jovem tenista sérvio, já que muito aprecio o seu ténis pleno em técnica e o fantástico jogo defensivo de "nole". Surpresa foi então este encontro, em que o poderoso e muito instintivo francês (que recebeu o epíteto de "sósia de Cassius 
Clay") roubou o espectáculo a Djokovic. Tsonga venceu em cinco partidas (parciais 7-6 com 10-8 no tiebreak; 6-7 com 5-7 no tiebreak; 1-6; 6-3; 6-1). Com algumas flutuações na qualidade do seu jogo, é certo, ainda assim exibindo consistência ao longo das mais de quatro horas de encontro, invulgar situação tendo em conta a prestação de Jo-Wilfried nos úlitmos grandes torneios. Na meia final Tsonga defronta Federer, uma partida que se adivinha espectacular e disputada. Pelo "lag" proporcionado por ter de ver os jogos em diferido, comento esta semi-final já depois da final ter ocorrido.

Para além desta excepcional partida, o ponto alto da minha noite informativa terá sido a breve entrevista a Humberto Coelho, no programa de comentário desportivo "Pontapé de Saída", transmitido às 23 horas de Quinta-Feira na RTPN. O "mister" falou do seu tempo enquanto jogador, seleccionador de Portugal e ainda da sua experiência internacional, nomeadamente da recente participação na CAN, treinando a selecção tunisina.

Conan, Conan

O imbróglio que tem envolvido os vários Talk-Shows da NBC não tem passado despercebido à maioria das pessoas. Pois a mim muito menos. Leno saiu do Tonight Show, Conan veio para Los Angeles, Fallon tomou conta em Nova Iorque. NBC não gostou do programa novo de Leno; Leno quer voltar ao Tonight Show; NBC põe Conan entre a espada e a parede e pretende empurrar o histórico formato - inicialmente pensado para Johnny Carson há mais de 40 anos - para um horário excessivamente tardio. Conan recusa e, como tal, começam os verdadeiros problemas para a estação... Algumas semanas mais tarde, O'Brien está de malas feitas e vai deixar a NBC. E é a partir desse momento que se fazem algumas das melhores edições de todos os tempos do Tonight Show.
Sempre fui fã de Conan O'Brien. A sua irreverência, inteligência e acutilância. Mas sempre o achei também um narcisista obcecado com o culto da sua própria imagem (e continuo a achá-lo). Sempre entendi faltar-lhe algum veneno; as críticas pareciam demasiado veladas, o risco da ofensa desempenha um papel fundamental no interdito deste comediante. A importância de
agradar a um público maioritariamente conservador, "borderline" reaccionário, de valores cristãos e, mais importante ainda, americano. Conan nunca deixou de se preocupar quem ofendia e de que forma o fazia. Este aspecto sempre me fez pensar que, em última instância, o mítico apresentador preferiria salvar a própria pele a dizer algo inconveniente sobre alguém que pudesse comprometer o seu trajecto. E feita a transição para o Tonight Show, o risco seria ainda maior (mais público, mais velho, horário nobre e ainda a responsabilidade de ocupar o lugar de Leno) E não é que eu não podia estar mais enganado? Desde que eclodiu esta crise na NBC, Conan O'brien tem estado inspiradíssimo, cáustico e até um pouco cínico. Brilhante! Bravo. O 
apresentador provou, para além de qualquer dúvida razoável, que só não critica quando não o deseja, não ofende porque entende que nem George W. Bush merece ser ofendido. Mas quando os executivos da estação norte-americana fazem para o merecer, Conan é implacável. E com toda a legitimidade.
Quando escrevo este texto o "Tonight Show With Conan O'Brien" já fez a sua última emissão. Conan despediu-se com grande estilo e elevação. Recebeu nestes últimos dias algumas figuras proeminentes do "showbiz" como Martin Scorsese, Quentin Tarantino, Tom Hanks ou Will Ferrell (todos eles apoiantes incondicionais da causa recente do apresentador). O'Brien provou-me, nestas últimas semanas, que é o melhor "talk show host" dos Estados Unidos da América.
Podemos encontrar neste caso uma clara dicotomia que tem sido cada vez mais frequente no mundo do entretenimento e informação televisivos. A figura, o carisma, o sujeito; contra o grupo, os accionistas, o interesse comercial/político. Sabemos que Conan nunca poderia ganhar esta guerra, e que inevitavelmente teria de abdicar do seu novo programa. Mas sabemos também que hoje o espectador vive uma relação especial com o sujeito mediático e que, graças às novas redes sociais e à forma como estas se organizam, e graças à forma como os intervenientes vêm esta nova relação multiplataformas, a estrela já não "morre" enquanto o público não desejar que ela desvaneça. E muito embora Conan esteja de partida do Tonight Show, ele já fez saber pela Internet que, pelo menos num futuro próximo, não lhe faltará emprego.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Aussie Open

Tenho acompanhado através do canal de cabo Eurosport a transmissão do Open da Austrália em Ténis. Um acontecimento fabuloso e dos mais badalados do desporto mundial. Felizmente, a transmissão desportiva (alguma) muda com os tempos, e neste caso os comentadores 
recorreram ao Twitter para recolher impressões dos espectadores, factor decisivo para que a transmissão televisiva de um evento deste tipo faça sentido - sobretudo nos horários em que no nosso país passa o Open (entre a meia-noite e as 11 da manhã).Para além disso, o espectador mais atento pode ainda disfrutar do Eurosport Player, uma plataforma online que nos permite, apenas por 5€, assistir aos jogos do Open em directo e ainda às gravações de alguns jogos históricos passados neste ou noutro torneio dos denominados "Big Four" (Austrália, França, Inglaterra e Estados Unidos da América). Existe também (e também muito felizmente) um aparelho de nome "TV box", que me permite gravar todas estas delícias e mais umas tantas, para as poder ver posteriormente (mais uma vez em função da diferença horária para a Austrália, que me impede de ver a maioria dos jogos em directo).
Para já, estou estupefacto com a prestação Justine Henin. A atleta belga, depois de uma época inteira de hiato regressa e ruma à final no seu primeiro grand slam depois do "comeback"; e ainda a fantástica participação de Victoria Azarenka e Marin Cilic, dois jovens jogadores que se afirmam neste Open como talentos de GRANDE futuro na competição singular feminina e masculina, respectivamente.

A grelha e o directo

O meu ímpeto de proto-comentador desportivo toma conta em certas ocasiões. Quando explode a polémica no mundo do futebol, então aí sucede-se ensurdecedor disparar de comentários e oposições.
Como é sobejamente conhecido nos meandros da televisão, nomeadamente da informação televisiva, a transmissão em directo, ou "a urgência do directo" tomam inúmeras vezes o lugar dos programas previamente agendados, pelos quais muito boa gente aguarda (e em pleno direito, já que lhes foi garantida essa transmissão por uma grelha pré-existente) todos os dias. Ora, o directo inverte tudo isto. Correndo o risco de passar por ultra-polémico, e de ser acusado da leviandade de preterir a relevância da corrente situação política e económica nacional para um mero programa semanal de comentário desportivo, venho manifestar o meu desacordo e desagrado para com o ocorrido na passada noite de terça-feira, 26 de janeiro, noite essa em que a RtpN decidiu, ao contrário do programado - e mais uma vez refiro-me à tal "grelha" cujo principal propósito será fidelizar os telespectadores - transmitir um especial noticioso em directo. Razão? O ministro das Finanças do governo português, Teixeira dos Santos, está finalmente a preparar-se para anunciar as linhas gerais do orçamento de estado para 2010. Começo pelo talvez questionável horário do sucedido. Que o orçamento deste ano teria que passar pelo buraco da fechadura (ou seja, pela abstenção à direita), isso já esperávamos. Mas uma apresentação rasca em power point às 23:30 da noite?! Sinceramente, senhor ministro... Compreendo o embaraço de Portugal chegar ao fim do primeiro mês do primeiro ano desta nova década sem um orçamento aprovado, mas seria tão importante assim lançá-lo na Terça, mesmo que claramente fora de horas e sendo a grande maioria da informação transmitida quase irrelevante? "Procurámos enquadrar os dados do crescimento com as expectativas da UE"... ; "a principal prioridade do governo será o desemprego e o combate ao défice orçamental"... A única informação de facto relevante em todo este debacle será a revisão da dívida pública, para 9,3% do PIB. Terá provavelmente ocorrido ao ministro que as chatices e as perguntas seriam reduzidas a pouco ou nada se a apresentação se realizasse a uma hora em que de facto todos os presentes só desejavam regressar a casa para o (tão merecido) descanso. 
Regressando então à questão inicial, em que o canal noticioso RTPN transmitiria hipotéticamente, das 22.30 às 00.00 desta Terça-feira o programa de comentário desportivo Trio de Ataque. De facto, o que ao invés sucedeu foi um especial de informação que durou mais de uma hora, com o único intuito de encher chouriços até que o ministro falasse. Os comentadores do costume, os comentários de sempre - "menos estado" "despesismo" etc etc... - já estamos fartos de saber. E de tudo o que o ministro disse, das 23.30 à meia noite - tempo que durou a sua apresentaçãozinha - reti de útil o valor revisto do PIB, que poderia ter sido facilmente comentado e escalpelizado no jornal da meia-noite da mesma RTPN, meio precisamente indicado para a actualização noticiosa e no qual o directo faria todo o sentido. Em vez disso, tivemos um "especial informação" (que não sei bem o que teve de especial nem sequer de que insidiosa novidade me terá informado) durante a duração virtual do programa desportivo. 
Toda esta conjugação de acontecimentos leva-me à simples conclusão que a estação pública de televisão trata a informação como entretenimento, que degrada a importância de uma grelha para a imposição de um directo que de si é muitas vezes empobrecedor (normalmente o directo é uma combinação de pedaços em que um jornalista "in loco" procura descrever a situação corrente, não passando de uma série de gags, soudbytes e observações situacionistas e irrelevantes - lembremo-nos dos directos nas noites eleitorais antes de se saberem os resultados sufragados). Embora a política tenha uma relevância social ainda maior que a do desporto (e estou a pesar devidamente as palavras), um programa de hora e meia agendado para discutir o grave clima de suspeita e de "jihad" que se vive no futebol português é util e de grande interesse. Programa este ainda protagonizado por algumas figuras muito importantes no universo clubístico e até com alguma influência nas respectivas direcções (talvez à excepção de António-Pedro Vasconcelos, uma figura um pouco mais marginal ao regime de LF Vieira), que será porventura mais útil que uma emissão com os mesmos noventa minutos, na qual ao fim de oitenta e poucos, há um senhor que afirma "afinal vamos rever o valor do défice em alta para 9,3%".
Com o seu magnífico anúncio, o ministro das finanças português conseguiu mais uma vez captar
a atenção mediática dos "pack journalists", fazendo uma apresentação noctívaga e madrugadora do seu orçamento para um ano que já começou. E mais uma vez este governo prova-se como "media savy", sabendo melhor que ninguém criar uma notícia - que à falta de melhor conteúdo,
acaba por ser justificada num especial informativo de uma hora que precedeu o pseudo-acontecimento.