segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

A Inevitável Retrospectiva

Aqui ficam os melhores de 2007. Não por ordem crescente qualitativa, nem pela data de lançamento, mas por relevância autobiográfica. Ah, e já agora, são 15.

1.  The Shins - Wincing the Night Away

2.  Of Montreal - Hissing Fauna, Are You the Destroyer?

3.  LCD Soundsystem - Sound of Silver

4.  Kings of Leon - Because of the Times

5.  Spoon - Ga Ga Ga Ga Ga

6.  The Arcade Fire - Neon Bible

7.  M.I.A. - Kala

8.  Bright Eyes - Cassadaga

9.  Panda Bear - Person Pitch

10. Radiohead - In Rainbows

11. Battles - Mirrored

12. Feist - The Reminder

13. The National - Boxer

14. The Besnard Lakes - ... Are the Dark Horse

15. Neil Young - Chrome Dreams II


Que o próximo ano seja tão ou mais próspero musicalmente quanto o que agora finda. Possivelmente, 2008 trará alguns regressos ao estúdio de artistas e colectivos ansiosamente aguardados: Portishead, Rage Against The Machine, Led Zeppelin 
ou Death From Above 1979. Será desta?

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Neo-Surrealismo musical (ou o sonho do Rap)

O período consagrado entre as décadas finais do século XX e o presente dia terá sido, porventura, o que mais admirou teórica e existencialmente os trâmites morais e paradigma estético das revoluções artísticas principiadas cerca de cem anos antes. Os quadros de artistas como Picasso ou Van Gogh tornaram-se os mais apreciados em valor e estima de muitos coleccionistas, enquanto o legado de filosófico de Freud, Nietzsche ou Dali é sobreposto ao mapa humano actual. Numa sociedade que aceita tão facilmente dependências e vício como compromete tais actos a alheada responsabilidade (não alheia). Talvez um alienígena que viva dentro de nós, um monstro de instintos e impulsos devidamente armazenados e compactados à espera de ser revelado. E este ser poderá, eventualmente, encontrar algumas respostas consultando o seu próprio historial, o desorganizado diário mantido pelo nosso cérebro.

Em plena harmonização das diferentes artes e associação de alguns dos seus trajectos, surge um movimento musical inspirado no ritmo da própria poesia autobiográfica: o Rap. Nos seus primeiros anos de vida, terá sustentado bases nos ritmos africanos e pendor electronizado que a indústria e o meio criativo musical herdam dos transformadores anos 80. Pouco tempo mais tarde, tal como sucedera na longínqua história do Jazz, o Rap expande-se para todos os estilos musicais alcançáveis: Blues, Soul, Jazz, Funk, Clássica e até Rock. Actualmente, e após duas décadas de constantes revoluções e promiscuidades sonoras, o Rap colocou-se numa posição artística única. Dispõe de uma infinitude de escolhas, podendo incluir qualquer som ou ruído captado por um manhoso gravador que esteja presente no momento e lugar oportunos. Uma espécie de mental notes. Assim se libertam os seus criadores de eventuais restrições no que toca a meios de representar o corrente estado de espírito, e assim o fazem com assustadora perfeição. Sampling, Internet, ritmo e poesia garantem uma independência linguística e comunicacional sem barreiras, num processo surrealista de religação à alma. São captados suspiros, ecos, memórias e clarões, enfim, entranhas. A mescla traz o passado, e invoca o reprimido. A essência é chamada ao palco e abandona por momentos a lembrança que, a partir de algum momento cuja data e circunstâncias desconhecemos, escolhemos fazer de conta que o monstro não precisa de sair à rua de vez em quando.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

L.A. woman, you're my woman

Jim Morrison. The Doors. California. Drugs. Psychedelic. Euforia. Erotic Politicians. Lizard King. Boulevard. Mr Mojo Rising. "Our best record since the debut". Serão keywords suficientes?  Aqui fica mais uma: L.A. Woman.



A um dos mais perfeitos discos de Rock de sempre, aqui fica a minha breve homenagem a cada irrepetível faixa, a cada precioso momento contido nestes 50 minutos.

01 - The Changeling
02 - Love Her Madly
03 - Been Down So Long
04 - Cars Hiss By My Window
05 - L.A. Woman
06 - L'America
07 - Hyacinth House
08 - Crawling King Snake
09 - The Wasp
10 - Riders On The Storm

domingo, 11 de novembro de 2007

Finalmente, The Shins!

Questiono-me constantemente acerca das razões que me fazem gostar tanto desta banda. Eis, então, a minha simples teoria: para jovens que não querem sê-lo, assim se revendo na poética manipulada (mas com propósito) dos Shins, ou ainda para os menos jovens que respiram alguma fantasia alimentada por ambiências adocicadas, a banda cumpre totalmente ambos propósitos. Com eles nadamos em delírios sonhados por um qualquer adolescente em vésperas de se deprimir e finalmente aceitar um destino monótono. Viola-nos simultaneamente a dura lírica que, por entre cenários inspirados em Pet Sounds ou a invulgar Rock Opera que nos leva até Pepperland - Yellow Submarine -, nos adverte e canta (e aqui submeto o termo canto a um enquadramento épico, qual sereia camoneana, anunciando o destino trágico que anseia impôr-se - a submissão à "ocidentalidade"). Uma violência muito contida e almofadada.
Identifico-me com o primeiro dos perfis, aquele que se vê obrigado a crescer pela cinzenta realidade que o rodeia. Mas muito me revejo também na segunda personagem, guardando no âmago uma pequena esperança de que o mundo ainda pode ser encarado com alguma ingenuidade. E porque somos plenos em contradições e dualidades, a música dos Shins só pode fazer sentido.

The Shins - Saint Simon


domingo, 21 de outubro de 2007

...Amnesiac?

Atempadamente, e seguindo o barulho blogosférico que o recente lançamento de "In Rainbows" acendeu, propus-me a reavaliar essa histórica banda que são os Radiohead. Sim, presentes 15 anos de experiência, sentimo-nos tão dignos de admirar Thom Yorke como Jim Morrison ou Nick Cave. O singular e introspectivo rapaz que nos fala em dor e cansaço, desilusão e sofrimento, parece investido, no entanto, em fazer-nos crer na salvação. E cada novo disco dos Radiohead prova esse renascimento, erguendo-nos da mais desesperada profundeza à ligação com a dita essência. E Yorke explora este conceito de uma forma biblicamente meticulosa.

Não se trata este artigo, no entanto, de um louvor ao último trabalho desta banda (embora certamente ele mereça tal empenho), mas um relembrar do que já foi e continua a ser um marco para os Radiohead. Não "Kid A", que com os seus múltiplos méritos sonoros e poéticos poderia preencher uma obra surrealista. Também não relembro "Ok Computer", embora admita que este merece contemplações regulares e activas (esta última porque não controlo os próprios movimentos quando Thom Yorke uiva "Uptight", em "Subterranean Homesick Alien"). Ficam de fora "The Bends" e "Hail to The Thief" álbuns um pouco abaixo - hesito e não garanto subscrever o uso da anterior expressão - ainda assim dignos de grande empatia. Esqueço "Pablo Honey" por razões óbvias. Não censurando, considero-o uma fraca demonstração do potencial da banda. Dedico-me, por exclusão de hipóteses, à (re)descoberta de Amnesiac.


Por um largo período residiu a minha crença na distância milenar pendente entre Ok Computer e os restantes discos dos Radiohead. Não tinha ainda ultrapassado a multitude sónica, complexa e perfeita das fundações deste disco. A insistência em Kid A (e a óbvia recompensa daí advinda) permitiu-me chegar a Amnesiac, que me provou recentemente ser par dos seus dois antecessores. Sabendo que todas as músicas neste disco foram gravadas aquando de Kid A, não lhes retira qualquer mérito terem sido guardadas para posterior edição, concretizada pouco tempo depois. Em Amnesiac o ecletismo é omnipresente, e cada canção parece tirada de um sombrio sonho com adereços só possíveis em fantasias.

A primeira melodia ("Packt' Like Sardines..."), seca e desiludida (não uma desilusão), anuncia o tom electrónico e o compasso moody, características que serão constantes ao longo do disco. Sabemos imediatamente que se avizinha uma viagem atribulada ao negrume da alma do autor, e confirma-se a suposição quando ouvirmos "You think you drive me crazy" sussurrado num intimista tom de choro, ecoando na suspeita calmaria que antecede a tempestade em "You And Whose Army?". No meio estão "Pyramid Song", deliciosa balada em contratempo, debate eterno entre piano e bateria - possivelmente suplantado pela deprimida e bela voz de Yorke descrevendo uma descida às profundezas do seu ser- ; e "Pulk/Pull...", uma viagem ao passado , aquele dos beats de Aphex Twin e do Underground londrino dos anos 90. Uma sugestiva sucessão à faixa de abertura, insistindo ainda na cultura electrónica.
Segue-se "I Might Be Wrong", a perfeita transição para a segunda fase do disco, uma mais insistente nas guitarras e nos desafios existencialistas à luz da sociedade moderna. Esta canção pode ser interpretada como uma antologia do que os Radiohead conquistaram até então (e, possivelmente, até do que veio a ser consolidado mais tarde), unindo com precisão matemática as várias sonoridades experimentadas, criando um épico confronto entre o idealizado e o concretizado, o rock e a música electrónica.
"Knives Out" enfatiza a ideologia supramencionada e oferece-nos guitarra suficiente para compensar as omissões deste instrumento em outras faixas. Thom Yorke, entretanto, persegue ratos (ou outros animais de cérebro diminuído) dentro de sótão alheio, procurando cozinhar o passado que deseja olvidar. "Morning Bell" relembra Kid A, embora numa versão melhorada: sentimos que quase podemos saborear aquela doce melodia, que lentamente nos carrega para uma discreta mas embaladora apoteose. "Dollars And Cents" é o momento "Ok Computer" de "Amnesiac". A revolta (contida) apodera-se de todos - banda e ouvintes - e sente repulsa pelos paranóicos andróides, que não falam nem pensam senão em dinheiro. "Hunting Bears", instrumental curioso, não parece corresponder à fasquia herdada dos muitos pontos altos de "Amnesiac". Garante, afortunadamente, dois minutos de calmaria reflectiva, essenciais à recuperação de energias mentais e auditivas, para poder assim apreciar devidamente duas das melhores músicas deste álbum: "Like Spinning Plates" e "Life In A Glasshouse".


A primeira destas, inevitável e imediata viagem sensorial configura em seu contexto um tom de pré-despedida, pós-Kraftwerk, pós-ambiente, (quase cavernosa na sua batida em inversão e berrante em pleno uso do sintetizador) ao que se sucede uma epifania final - original homenagem a Angelo Badalamenti, o senhor compositor do Twin Peaks e derivados de outros devaneios Lynchianos. Inicia-se então o último capítulo com inclinação electrónica. "Life In a Glasshouse", delírio jazzístico e vagamente kurt-weilliano anuncia o desgaste que traz a paranóia, último suspiro de um louco em queda, para sempre observado e destruído ("Well of course I'd like to stay and chew the fat (...) Only there's someone listening in"), desejando sobreviver aos vícios letais e incessantes pequenas amarguras que a existência absorve dia após dia.


Não queremos porém esquecer-nos deste singular álbum. Tal invulgaridade é atestada pela maturidade ironicamente severa dos Radiohead, presente em cada pequena revolução sónica. Neste caso são onze. Existe no trabalho do conjunto uma lição musical essencial, que deveria estar presente, através de papel gasto e escrevinhado, no manual teórico de todas as bandas que ultrapassam a marca do terceiro disco: nunca desistir, enquanto músico e criativo, de provocar os atrofiantes limites dos géneros musicais impostos. Amnesiac suporta o teste do tempo e arranca-lhe uma consistência invulgar, provando-se como uma peça de antecipação - Radiohead antes de muita electrónica, Mr. Thom Yorke antes de Mr. James Murphy e Mr. Win Buttler. Antes, também, de Kid A?

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Pulp - Do You Remember The First Time?

Depois de mais um longo período sem postagens (ao que se avizinha uma série de longos períodos sem postagens), decidi deixar neste espaço mais uma grande música. Desta feita, de Jarvis Cocker e dos seus rapazes Pulp. Do you remember the first time? Não evoca romance, muito menos nostalgia. But you know we've changed so much since then...

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Bob on Bob (and everyone else) - Parte I


Que Bob Dylan não tem o timbre mais admirável e melodioso da história da música cantada, isso já todos sabemos. Mas como ele existem outros: Lou Reed, Ian Curtis, Jimi Hendrix ou mesmo Tom Waits (este se quisermos ser maliciosos). E destes senhores provêm alguns dos maiores hinos da história do Rock e de algum Pop- sendo que neste último a ausência de qualidades vocais é mais difícil de suplantar. Deles ouvimos "Heroin", "Transmission" ou "Are You Experienced?", apenas para citar um exemplo.
Sabendo que o desbravar de novos terrenos e conjugar influências na música não requer um talento de voz único, ponhamos em pratos limpos o seguinte: Bob Dylan esteve em todo o lado. Musical e geográficamente. Acordou para a música graças ao Rock n' Roll, influenciado pelos então recentes anos 50 de Elvis Presley e Jerry Lee Lewis. Depressa se imergiu no Folk norte-americano, lembrando a tradição cantautor de Woody Guthrie. Esta era legou-nos quatro fantásticos álbuns, completados entre 1962 e '65. Seguiu-se então o Blues e Jazz de Muddy Waters, Robert Johnson ou Miles Davis, que influenciariam grandemente a sua produção musical de 1965 até à era da desilusão Hippie, lá para inícios de 70's. Ficaram aqui registados alguns dos álbuns mais influentes de Dylan, de que são exemplos os LPs Highway 61 Revisited(1965) e Blonde on Blonde (1966), criados com o apoio dos The Band, (músicos de talento irrepetível e donos de uma bela discografia sem B.D.) que ajudaram a acertar o compasso do Country-Blues.
Seguiu-se uma década de maior introspecção do autor, nunca este preterindo, no entanto, a música pela poesia. Ainda houve tempo para escrever mais algumas obras-primas, como Blood On The Tracks (1975) e Desire (1976). Aqui Dylan explora a desilusão amorosa, e os solavancos nem sempre desejáveis de uma civilização em queda. Encontramo-lo aos 35 anos com meia dúzia de álbuns geniais produzidos, e muitos outros de qualidade indubitável. Sempre em busca de uma nova sonoridade, nunca cansado de baralhar as contas a melómanos como eu, redesenhando as fronteiras do Rock e sobretudo lembrando-nos que estes mesmos limites não são nada mais que convencionados, nunca impostos. Sobretudo porque Bob Dylan nunca se esqueceu, ao longo de toda a carreira, de fazer uma antologia em todos os novos discos, coleccionando antes de mais as sonoridades que já lhe foram familiares no passado. E este cocktail torna-o único.

Led Zeppelin - Going To California

Perdoem-me a rude filmagem do aviãozinho. Vicissitudes do Youtube.

O regresso daqueles que não foram

Muitos companheiros analistas já deram conta desta enchente de "retournées" que se abateu em 2007. Eles são The Police, eles são Genesis (com Phil, sem Peter), eles são também elas: Spice Girls. Virou moda.
Li algures que se devia à falta de bandas actuais capazes de encher estádios. Não me cheira. Parece é que a idade da banda é proporcional ao preço do bilhete.
Mas enfim. Tudo isto são peanuts comparando com a histeria que se gerou à volta do regresso mais badalado de sempre (para mim e mais 120 milhões de fãs): falo, claro, dos Led Zeppelin.
Quando em finais de Verão se soube que os míticos Led Zeppelin se reuniriam em honra do falecido manager e fundador da Atlantic Records, Ahmet Ertegun, foi a correria ao bilhete. O concerto está agendado para 26 de Novembro e desconfio que fará parar Londres.
Ainda me candidatei para o sorteio do bilhete, mas aliado ao meu típico azar vinha a improbabilidade de 1:6000 aprox. Tava-se mesmo a ver.
Mesmo sem Bonzo, seria o concerto da minha vida. Por tudo aquilo que o grupo representa no meu crescimento musical, pelas horas já dedicadas à escuta da quadratura. Porque gosta-me cada grito do Plant, cada timbalada do Bonham, cada acorde do Page e cada glisso do Jones. Como guitarrista aprendiz, o Stairway to Heaven é a música que mais gosto de tocar (e a que melhor sei).
Neste segundo em que escrevo, sei que algures no mundo alguém ouve uma música dos Zeppelin e pensa "já não se faz música assim". Um pouco injusto, mas para mim, que sempre vivi nestas últimas décadas, um pouco verdadeiro também. Oiçamos então a palavra dos Senhores...


Miguel Pereira (futuro membro e consequente postador do Some Loud Thunder)

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Justice - Genesis

Para quem costumava pensar que Junior Boys definiam o Lux, aqui estão os Justice a deitar mais umas achas para a fogueira. Será que o Lux imita a vida, ou a vida imita o Lux? Musicalmente - e sem qualquer preconceito -, creio enquadrar-me na segunda opção, embora o Sound of Silver tenha chegado antes ao meu Ipod que à pista do piso 1 da referida discoteca. Mas as excepções confirmam a regra.


segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Porque estou a ouvir...

Em certas ocasiões, algumas canções assumem espaço próprio no nosso quotidiano. Aquela "que ouvimos quando...".
Conjuga com conduzir em fins-de-tarde a caminho de casa em mais um dia sobrelotado, ou esperar que determinada noite nunca mais acabe.
Kanye West - Heard 'Em Say

domingo, 30 de setembro de 2007

Uma viagem ao outro lado do Atlântico - Continuação

3ª Noite: Várias bandas - MONSTER ISLAND OPEN HAUS / BLOCK PARTY (Williamsburg, Brooklyn)

Aconselhado por um amigo que estudou na NYU, decidi espreitar uma block party à maneira hipster da coisa. Esta maneira hipster em vez de frango frito vende vinho de mesa carrascão. Tudo equipado a rigor, artistas de muita Nova Iorque (não toda) reuniram-se para comemorar o 1º aniversário desta iniciativa Monster Island. Para tal organizou-se uma mostra de arte de rua: pintura, instalações, audiovisuais, tudo colorido, inventivo e irreverente (parece um velho a falar). Na verdade só ouvi uma banda, e não era o ansiado cabeça de cartaz: Aa (aka BIG A little a). Uma escuta atenta desta banda mostra um pouco de uma
nova tendência de rua em Nova Iorque: o culto da percussão, vários bateristas em simultâneo a descarregar sequências descoordenadas, por vezes acompanhadas por distorções de guitarra em Fuzz e Overdrive (um pouco de noise às vezes é relaxante). De se ouvir, na onda de Lightning Bolt.


2ª Noite: Paul Speciale Combo e Sonia Szajnberg Trio - Greenwich Village Bistro

Propositadamente, deixei para o final a 2ª Noite. A ideia inicial seria ouvir o Al di Meola no Blue Note (este é conhecido, já fez uns trabalhos com o Paco de Lucia e John Mchlaughlin : Friday Night in San Francisco). Porém, a idade do meu irmão mais novo não permitiu que entrássemos no bar, para descontentamento geral (menos do meu irmão mais novo).
Desiludidos, caminhámos em direcção à praça do Padre Demo numa área italiana de Greenwich Village. Um barzinho vermelho de luzes baixas e esplanada no exterior soava bem para uma boa pint. Não tinha mais do que 6 mesas lá dentro.
À chegada, a primeira boa surpresa. Uma big band de jazz, comandada pelo Sr. Paul - que em tudo fazia lembrar o Paulie 'Walnuts' Gualtieri dos Sopranos, mas com bigode. Sentado no seu piano coordenava o seu speciale combo composto por contrabaixista, baterista, 2 trompetistas (desconfio que tenor e alto), saxofonista e pianista. Nem sei como coube aquela gente toda lá. A verdade é que iam trocando o assento do balcão e a Bud na mão pelo palco (um espaço entre a planta da entrada e a máquina de flippers) e instrumento, mesmo durante a música. Infelizmente não há nenhum site deste senhor que, com os seus 70 anos, não deve dominar o mundo da internet.
"Graças a Deus que gosto de música" nº2.
Tocadas cinco músicas, a banda saiu talvez para um concerto noutro local e instalou-se o silêncio. Tinha sabido a pouco. Ainda perguntei ao Sr. Paul onde se poderia continuar a ouvir bom jazz: sugeriu-me o Vanguard, "it's legendary". Em vez disso, pediu-se mais uma pint.
Ao palco surgiram 3 miudos dos seus 19 anos. Tenho que descrever bem este momento, pois define tudo o que é querer ser músico (PS: acho que está na altura de fazer uma banda).
Ainda nervosos, demoram uns 10 minutos a afinar guitarra, contrabaixo e voz (nunca tinha visto ninguém a afinar a voz com um diapasão). O folhear das pautas era tão agressivo que, claramente deveria ser o seu primeiro concerto (ou dos primeiros). Chegam uns amigos, da mesma idade, que vão cumprimentando os músicos e se sentam nas cadeiras para os ouvir e dar o calor motivador. Um sorriso e uma caixa para tips comeca a circular ainda antes da primeira música.
E eis que a miuda canta..



Ps: Bora fazer uma banda?

Miguel Pereira

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Hell Hath No Fury

Os Clipse são tudo aquilo que podemos esperar do bom Hip-Hop, e um pouco mais. À sua lírica ácida, aprofundada nos subúrbios de Miami, lado a lado com traficantes e outros bandidos, junta-se a excelente produção de Pharrell Williams, que revela um vasto conhecimento da história musical moderna. E confio aos senhores protagonistas o seguinte espaço:


Clipse - We Got It For Cheap (Intro)

Fear him, as soon as you hear him
Upon my arrival, the dope dealers cheer him
Just like a revival, the verse tends to steer 'em
Through a life in the fast lane, like German engineerum
No serum can cure all the pain I've endured
From crack to rap to back to sellin it pure
For every record I potentially sell in the store
It's like Mecca to the dealer that's sellin it raw
So many deceive ya
I'm on top with the ki's, move over Alicia
I force feed ya the metric scale
Rap's like child's play, my show and tell
Within each verse you see the truth's unveiled
They manufacture proof as they lie to themselves
Puppets on the string like a yoyo
Bouncin like a pogo, they prayin I never go solo

The wall's removed and now I see
My leg was pulled, the joke's on me
So heartbreakin, like lovin a whore
Might hurt ya once, but never no more
It's like tryin to fly but they clippin your wings
And that's exactly why the caged bird sings
Who can nickname it, the shame rings true
Seems to me reperations are overdue
I done been to the top, I done sipped the juice
And with that bein said, bird crumbs'll never do
Even on my last not a penny in the bank
I'ma stand on my own, so thanks but no thanks
Keep the pranks as I bid farewell
I gotta answer to Marcus and Jennel
And to little brother Terrence who I love dearly so
If ever I had millions never would you sell blow, never

I'm the best since he died, and he lied
The spirit of competition, one verse could start jihad
CPR Pusha, the flow tends to revive
Pullin the covers back, I expose what you disguise
My presence is felt, the pressure is on
A four eleven cuban helped us weather the storm
Pyrex and powder, it was back to the norm
Through all the adversity the fury was born

Niggaz don't get the picture, it's written in scripture
Even at your mama's she'll tell you that blood's thicker
And I don't know how them other niggaz built
And I don't know if ever they feel guilt
Or maybe niggaz just too high on they stilts
But this one's on me, I'ma view it as spilt milk
Grandma look at me, I'm turnin the other cheek
It's the R-E-U-P G-A-N-G

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Go! Team

Prestem atenção a estes putos: Com o seu novo disco (Proof of Youth), os The Go! Team consolidam a sua sonoridade, a base de fãs, e ambicionam abraçar todos os géneros musicais. Se isso algum dia for possível...

sábado, 22 de setembro de 2007

Mudança de paradigma?

Por uma semana um pouco atribulada, e consequentemente escassa em postagens, as minhas sinceras desculpas. Vamos, então, ao que interessa:

A peculiaridade de uma certa Pop, cuja explosão temos assistido ao longo dos últimos anos (principalmente desde que o desempenho do produtor se tornou tão relevante quanto o do próprio artista), assente em novos moldes electrónicos, e sobretudo no sampling constante - podemos constatá-lo no último disco de Nelly Furtado, insistente em beats feitos com talheres de cozinha, ou coros profundamente sintetizados. Esta exploração de vias alternativas para um Pop saturado e descrente nos antigos valores comerciais (onde anda Madonna agora? Provavelmente a assinar um contrato de produção com Timbaland) cujo propósito central se tornou a figura, a estrela, e não a melodia, tão querida a este género musical desde os anos 70. Felizmente, a nova geração Mtv tornou-se um pouco mais exigente, já que a Internet e o livre acesso a qualquer música de qualquer banda, assim o exige. Uma geração que cresce musicalmente com os Arctic Monkeys, Franz Ferdinand e The Strokes, não pode ouvir Justin Timberlake da mesma forma. E assim todos estes artistas consagrados pela última meia década, foram obrigados a buscar outros caminhos, outras possibilidades. E foi isso que encontraram na nova produção, impulsionada em grande parte por Timbaland. Mas Timbaland não está sozinho, e não é um inovador completo. Se ouvirmos dois álbuns de duas artistas contemporâneas - Björk e M.I.A. - e bastante distintas, conseguimos compreender em grande medida as revoluções na música Pop. Estes discos chamam-se "Medulla" e "Arular", respectivamente. As sonoridades apresentadas nestes dois discos são totalmente inovadoras, e até científicas, já que trabalham muito no lado experimental, como tentativa e erro. Mas poucos enganos se podem encontrar aqui e, pelo contrário, estão presentes muitos dos fundamentos que justificam as alterações musicais dos últimos três ou quatro anos. Podemos comprová-lo mais uma vez: Björk mantém-se na vanguarda e dita as regras futuras, e tem agora rival à altura - M.I.A., que nos deixou mais uma vez arrebatados com o seu segundo LP, "Kala". Listen carefully...

Björk... (A Triumph Of The Heart, de "Medulla")



... e M.IA. (Pull Up The People, de "Arular")



sábado, 15 de setembro de 2007

Blood On The Tracks



É sempre tão saboroso descobrir um álbum de contornos obscuros e letras violentamente pessoais, sobretudo de um artista que tanto viveu, biográfica e musicalmente. Bob Dylan, 1975, multifacetado, aqui romântico em "Buckets of Rain".

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Uma viagem ao outro lado do Atlântico - parte 1

Do meu correspondente especial para assuntos estrangeiros, Miguel Pereira, uma actualização do que se tem feito, musicalmente, pela cidade que jamais dorme.


Sonia Szajnberg Trio

Pois é (é bonito começar assim uma estória). Como prometido ao meu amigo Ziegler, criador deste blog e meu tutor neste mundo que é a música, chegou a minha vez de juntar a minha experiência a este laboratório que em pouco tempo será a biblia daqueles que gostam de música mas já esgotaram todas as combinações possíveis do myspace. Aqui se acrescenta um pouco mais de cor a esta palete.
Voltei recentemente de uma viagem a Nova Iorque. É tudo aquilo que dizem. A experiência musical não poderia ter sido mais eclética. Se calhar poder-se-iam fazer 5 posts diferentes. Desde bandas de GlamRock (com página como não podia deixar de ser - infelizmente não tenho o link) a tocar numa estação de metro, a flautistas chineses a tocar em pleno Central Park. Acredito que todos os géneros musicais têm fãs algures em Nova Iorque. Para aqueles que deliram com o trash metal e speed metal, sugiro uma ida ao St.Mark's Place.


Foram dedicadas 3 noites para assistir a diferentes espectáculos.
Os links postados são páginas de myspace ou oficiais das bandas que se ouviu: um ré bemol vale mais do que mil palavras.


1ª Noite: Melvin Taylor - Terra Blues


Este espaço, em plena Greenwich Village, não acusa o peso de um BlueNote ou Village Vanguard, sendo que o ambiente é bastante mais relaxado e escuro (à boa maneira blue). Completamente desconhecido para mim, como todos os outros nomes citados adiante, o homem revelava uma técnica (nunca tinha visto ninguem a tocar no braço da guitarra com a mão virada ao contrário!) digna de um Stevie Ray Vaughn (mas não branquela). Por acaso até tocou o Texas Flood, que está na página. Que experiência! Blues ao vivo é tocante, faz-te querer abanar a cabeça lentamente e fazer caretas quando o guitarrista (neste caso o Melvin) ataca aquelas notas agudas e chorosas. Para aqui vai o "Graças a Deus que gosto de música" nº1. Se pudesse tinha lá ficado a ouvir os 3 sets (hábito das casas nova-iorquinas, terem intervalos para "smoke a cigarette").


A segunda parte deste artigo será postada brevemente...

terça-feira, 11 de setembro de 2007

The Decemberists - The Soldiering Life



Música apoteótica, saudosista e nunca inapropriada para o momento. Muito portuguesa, portanto. Dos mais teatrais contadores de histórias em música desde que Jim Morrison matou o pai e ***** a mãe. The Decemberists.

A música vai para a rua! (Street Fighting Man)

Se desejas rebelião legitimada pela tua desilusão com o mundo, és de esquerda, e ainda queres que todos gostem de ti, cria a tua própria banda! Mick Jagger assim o fez... brilhantemente.


Rolling Stones - Street Fighting Man

Everywhere I hear the sound of marching, charging feet, boy
cause summers here and the time is right for fighting in the street, boy
But what can a poor boy do
Except to sing for a rock n roll band
cause in sleepy london town
Theres just no place for a street fighting man
No

Hey! think the time is right for a palace revolution
But where I live the game to play is compromise solution
Well, then what can a poor boy do
Except to sing for a rock n roll band
cause in sleepy london town
Theres no place for a street fighting man
No

Hey! said my name is called disturbance
I'll shout and scream, I'll kill the king, I'll rail at all his servants
Well, what can a poor boy do
Except to sing for a rock n roll band
cause in sleepy london town
Theres no place for a street fighting man
No

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Blonde Redhead - 23



Vão roubar a noite aos Interpol. You'll see...

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

The Libertines - Music When The Lights Go Out




Proponho alteração do nome Libertines para Livertines, em homenagem ao libertino e muito vivido fígado de Pete Doherty. Agora a sério: bom intérprete, boa banda, bom concerto (dos Babyshabmles) em Paredes de Coura '07.

Com especial agradecimento para: S.B. (que possivelmente estragou a vida a um nepalês com apenas uma palavra)

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Adolescência segundo Mr. Josh Rouse

Flight Attendant

When I was
A little baby
A mamma's boy
No one could save me
From those kids at school

They would bully
They would tease
They would taunt me
Haunt me

"You're such a pretty boy"
"You're such a pretty boy"
"You're such a pretty boy"
"You're such a pretty boy"

Fear
I grew up so scared
The bible belt
Redneck lifestyle
One day i'll fly free

In the airplanes
"Where's my seat?
Where's my champagne?"
Champange

I'm such a pretty boy
I'm such a pretty boy
I'm such a pretty boy
I'm such a pretty boy

Heaven knows the lengths I'd go to please them every day
They dont even notice when i'm
Down

Such a pretty boy
Such a pretty boy
Such a pretty boy
I'm such a pretty boy

Hotels were closed
And the airport was clean
I was stranded alone
In my southwest dream

Hotels were closed
And the airport was clean
I was stranded alone
In my southwest dream

Clap Your Hands Say Yeah - Some loud Thunder

Por favor, ignorem as imagens...

Some Loud Thunder

O que seria do Verão sem os Talking Heads? Provavelmente, um Verão animado - ao som de Stan Getz, Bob Marley, Kanye West, Joni Mitchell e Neil Young. Mas eu nasci há 22 anos, e mesmo então, já poucos ignoravam a banda de David Byrne e a sua agitação estival. Hoje em dia, é impossível percorrer a costa alentejana sem o burburido das congas em "(Nothing But) Flowers", as gélidas praias minhotas na ausência de "And She Was", ou o longo e sobre-populado mar algarvio sem "Once In A Lifetime", gritando-nos ao ouvido: "Same as it ever was"...
A verdade é que ao longo dos anos, esta banda fez-me adoptar uma certa idealização do verão, assente em longos fins de tarde à beira-mar e muita, muita estrada. Não esqueço, claro, a essencial companhia dos amigos, que torna cada canção numa alegre cantoria ou uma pertinente (?) discussão acerca das ambições vocais de Byrne. E é precisamente este o ponto de partida para os Clap Your Hands Say Yeah!
Vocalista de voz exuberante, aparentemente desafinada e por vezes descontextualizada, Alec Ounsworth lidera a lista de ambiguidades no meio alternativo. Forte lírico, insiste no desgaste comunicacional entre pessoas, a desilusão da vida urbana ou, porque nunca se foge a este tema, a ressaca amorosa. Este é, provavelmente, um dos menos consensuais cantores dos últimos anos, criando uma pequena legião de admiradores inabaláveis, por um lado, e ao mesmo tempo um grupo diverso de críticos impiedosos que desvalorizam os dotes vocais de Ounsworth, remetendo o seu futuro para o desaparecimento.
Na comunidade musical dos nossos tempos, nenhuma banda com uma base de fãs semelhante à dos CYHSY (salvo raras excepções) consegue ultrapassar as labels independentes, e restringe-se por isso a um mercado mais específico, mais centrado nos concertos, e nas pequenas comunidades de fãs que vão surgindo pelo mundo cibernético. Aqui, a meu ver, reside a salvaguarda a esse desaparecimento tão insistentemente anunciado pelos detractores de Alec Ounsworth.
Em 2005, os Clap Your Hands Say Yeah lançaram o seu primeiro LP, homónimo. Melhor estreia ninguém podia esperar. E de todas as vagas influências que podemos encontrar neste disco (e são, de facto, muitas), talvez uma das mais discretas - presente sobretudo na voz de Ounsworth - provocava-me especial inquietação: David Byrne e os seus Talking Heads vagueavam por algumas das canções.
Já no actual ano, o segundo disco dos CYHSY é lançado, desta feita com o título da primeira faixa a servir de mote para as restantes. "Some Loud Thunder" não é, certamente, um álbum com a genialidade e grandiosidade do trabalho anterior, mas não deixa de ser um invulgar incentivo para que continuemos à espera do que estes rapazes de Nova Iorque têm para nos sussurrar. Ou gritar.
Um relâmpago não atinge duas vezes o mesmo local. O mesmo podemos deduzir da canção "Some Loud Thunder". A grandiloquência desta música reside precisamente na sua simplicidade, mas intensidade com que nos descreve o frenesim esquizofrénico de Ounsworth, enquanto as guitarras uivam, e os ecos subaquáticos nos transportam para outro espaço, aquele entre o trovão e o seu choque com a terra, com o Homem, connosco. E aí nos deitamos e aceitamos recebê-lo, convictos que o barulho que fazemos será ouvido por alguém.
Hoje, que já não me lembro do que era o Verão sem "Some Loud Thunder", e que não prescindo de passar algumas horas a contemplar o mar numa base diária, lembro-me de todos os sítios por onde passei, de muitas das pessoas que conheci, e imagino todos eles como variações de um embate entre um qualquer estridente relâmpago e um qualquer ser humano, pronto para ouvir, ansioso para sentir.

domingo, 2 de setembro de 2007

Everyday I Have The Blues

Everyday, everyday I have the blues
Ooh everyday, everyday I have the blues
When you see me worryin' baby, yeah it's you I hate to lose

Whoa nobody loves me, nobody seems to care
Whoa nobody loves me, nobody seems to care
Well worries and trouble darling, babe you know I've had my share

Everyday, everyday, everyday, everyday
Everyday, everyday I have the blues
When you see me worryin' baby, yeah it's you I hate to lose

Whoa nobody loves me, nobody seems to care
Whoa nobody loves me, nobody seems to care
Well worries and trouble darling, babe you know I've had my share


B.B. King


The Flaming Lips - She Don't Use Jelly/Mountainside 1994

A Qualidade é foleira (1994), mas vejam quem apresenta o programa...

Lembram-se dos Flaming Lips?

Esta pergunta pode parecer um pouco absurda mas, como todos os disparates proferidos por mim, tem algum significado subjacente. Sim, os Flaming Lips ainda existem, e continuam a editar, mas há neles um grau de lamechice, sobretudo a partir do LP "Yoshimi Battles the Pink Robots" de que sinceramente desconfio. Onde estão os Lips de "Transmissions From The Satellite Heart", "Clouds Taste Metallic" ou "Zaireeka?" ? Aqueles que rivalizavam com Sonic Youth, Pavement ou, sobretudo, Yo La Tengo, distorcendo guitarras, em aceso frenesim de baterias e de vozes New Wave que nos atravessam o estômago, deixando óbvias mazelas sentimentais. Sim, hoje temos os Sigur Rós, mas por vezes na Islândia faz demasiado frio.
Consolemo-nos com o legado eléctrico dos anos 90, que a nova direcção dos Flaming Lips não nos fará esquecer. Os Sonic Youth lançaram Rather Ripped em 2006 que, apesar de explorar uma calmaria nada familiar (na belíssima "Do You Believe In Rapture?"), também relembram porque é que são quem são. Devemos esperar que os FL escolham o mesmo percurso? Provavelmente não o farão. A evolução surge com naturalidade, tal como sucedeu com os Yo La Tengo nos últimos anos. Mas que ao vivo nunca esqueçam a arte da antologia.

Protection

Este deveria ter sido o primeiro post. Gondry, Massive Attack: protection.

Of Montreal Gronlandic Edit Sarasota 07

Com os Of Montreal em palco (as seen in Sudoeste) podemos contar com uma encenação muito Genesíaca (obrigado, Peter Gabriel), inevitavelmente surpreendente e sexualmente ambígua - Barnes já afirmou que adora troçar dos preconceitos.

Justificando o URL

Atento leitor reparará que, apesar do nome deste blog remeter para a perfeita e cristalina canção dos Clap Your Hands Say Yeah! Some Loud Thunder (que mais tarde irei abordar, naturalmente), o endereço deste mesmo espaço é ainda outra referência, desta feita uma homenagem aos fabulosos e sintetizadores da pop dos últimos 40 anos (já que o pop, a meu ver, nasce em caves da industrial Liverpool, em começos da década de 1960). O seu nome é Of Montreal.
Apesar de não terem qualquer ligação biográfica com Montreal, o colectivo liderado por Kevin Barnes consegue criar uma ligação ideológica entre o seu estado de espírito "passive-agressive" e inconstante e esta cidade canadiana.
O seu último LP, intitulado "Hissing Fauna, Are You The Destroyer?" sintetiza uma carreira que abarca já dez anos, oito longas durações e uma mão cheia de EPs. É um álbum composto, à semelhança de "Satanic Panic In The Attic" (2004) - por muitos considerado a obra-prima desta banda - de elementos da pop electrónica, Space-Rock, Shoegaze, coros à Beach Boys e ira/desilusão que deixaria Morrissey orgulhoso. Por todas estas razões, e muitas outras que seriam certamente meritórias de blog próprio, "Hissing Fauna (...)" completa um ciclo que a música do século XXI há muito desejava, fazendo perceber que há muito a ser feito através de tudo o que já foi feito.
Que esperar, agora, de Kevin Barnes e dos seus rapazes? Por que caminhos investirão de futuro? A única certeza é que estaremos cá para ouvir. E que, tal como no enésimo filme de Woody Allen, parece que não nos conseguimos cansar do homem.

The End Has a Start

Perguntar-se-ão os leitores: "porquê? porque é que tenho de aturar mais um gajo a impingir-me os seus gostos musicais? não faltam putos indie por aí, e todos deliram na possibilidade de citar Morrissey, ou provar que conhecem todos os bons álbuns criados entre 66 e 2006."
Quanto a isto, poderei apenas responder uma coisa: por favor, não leiam o meu blog! Se não gostam do universo de referências de que a música actual depende, se estão fartos de ouvir as lamechices do pós-punk, ou se acham que Ummagumma é uma marca de cola, este blog não é para vocês. Aqui, somos putos indie e assumimos a culpa. Os nossos maneirismos são o acumular de várias gerações melómanas, das quais nos orgulhamos e potenciamos com este milagre democrático (musical e muito mais) a que chamamos Internet.